Da Série: relacionamentos Virtuais Ou: Virtual??? Que nada! É o velho preconceito ao vivo e on-line
Tava querendo conversar. E quando vem essa vontade, não me importa se é dia ou noite, meio ou fim-de-semana. O que sei é que quero conversar, trocar informações, palavras amigas, sei lá! Pois bem: numa dessas noites em que eu trabalhava e o cansaço já não me deixava avançar um milímetro sequer em meu projeto, resolvi entrar numa sala por idade (20-29 anos), escolhi um apelido (Henry, de Henrique) e cliquei “entrar na sala”. A sala estava cheia, com 40 pessoas conversando sobre os mais variados assuntos, e eu7 tentando puxar assunto com alguém:
“__Boa noite a todos!” - cumprimentei. Nem sinal de resposta.
“__Talvez eu deva me dirigir a alguém em particular...” – pensei na minha inocência. Escolhi uma pessoa da lista que atendia pelo nome de Loira/RS. Arrisquei:
“Boa noite, Loira! Está curtindo o inverno ai no RS?” – mais uma vez ignorado. Foi então que resolvi mudar de estratégia, ou melhor, de apelido. Precisava de algo sugestivo, Stan Lee me perdoe, mas após muito relutar, resolvi adotar o apelido de Professor X. Entrei na sala novamente e... Bingo! Não precisei falar (ou digitar) nada, e a loira?RS dirigiu-me a palavra:
“__Boa noite, professor. Vem sempre a esta sala?”
Logo apareceu também uma tal de Storm se dizendo fã do Professor X e querendo o meu e-mail para estender a conversa além da sala de bate-papo. Depois foi a vez de Marcos31/RJ:
“__olá professor! Até que enfim entrou uma pessoa de intelecto privilegiado nesta sala!”
Respondi a todos da melhor maneira possível, surpreso com o que uma troca de apelido podia fazer. Afinal era eu a mesma pessoa que tinha sido solenemente ignorada havia poucos minutos.
Mais uma mensagem, desta vez no reservado (ou seja, somente eu e o meu interlocutor víamos a mensagem):
“__Olá, querido mestre! Que tal umas aulas particulares? Prometo ser boazinha e fazer tudo o que o senhor mandar, ta?”.
Perplexo com o entusiasmo dos meus novos amigos, meio embaraçado com o conteúdo das mensagens que chegavam e cansado de ser tratado como celebridade, resolvi dizer a todos:
“__Eu sou Henry, lembram de mim? E Professor X é só um apelido, não sou professor de verdade.” E tudo voltou ao normal, ou seja, voltei a ser ignorado na sala de bate-papo.
Este episodio me fez rir muito e pensar sobre o preconceito que muitas vezes impera no meio digital, na chamada comunidade cibernética. Em grande parte são pessoas que te julgam pelo apelido que vc escolhe, e nem sequer lhe dão chance de expor as suas idéias e quem sabe iniciar uma bela amizade. Mas isto não é culpa da tecnologia, pois o pré-julgamento acontece em todos os lugares, não só nos bate-papos da internet. Agora pense: quantos Henry´s você já desprezou no seu dia-a-dia, sem saber que estava falando com o Professor X?
Marcelo Henrique