Eu estou perto,
A maré não concorda,
Quase nunca acerto
E o som das vaias não me incomoda.
Eu sou o pequeno,
O cego ferido,
O ódio contido,
A doce derrota,
Um livro esquecido
Eu sou o que vinga
O que não esquece,
O índio que não empalidece,
A mendiga maltrapilha na noite de natal,
Eu sou vergonha nacional.
Sou freira de pé e bicho de chão
Sou nordestino de peixeira na mão.
Africano selvagem,
Lanças contra a corporação.
Eu pinto a história com breu,
Toco canções esquecidas
que lembram você e eu.
Ironia desafinada de supôsto requien
Tenho os chifres de um querubim.
Eu não tenho mapas,
Idéias, conteúdo ou direção,
Eu abro caminho a força
Enfiando o dedo na cara da multidão,
Gritando com urros tribais
E levando os culpados para o porão.
Mesmo sem asas eu alcei vôo,
Eu estou contra o vento
traduzindo os dialetos da dor
que encontrei perdidos no tempo.
Helio Andrade